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16 de setembro de 2011

O que não pode ser dito

Le cinéma, comme la peinture, montre l'invisible.
[O cinema, como a pintura, mostra o invisível]

Jean-Luc Godard
1. Comunicação
Nos comunicamos para transmitir ideias. Quando usamos a linguagem para a comunicação, organizamos conceitos em uma certa estrutura, que, acreditamos, vai transmitir essas ideias com o mínimo de ruído. Generalizamos sentimentos em conceitos que devem ser entendidos por ambas as partes. Quando falamos -- ou escrevemos --, temos que fazer um esforço mental para organizar nossas ideias, para transformar nossos fluxos de consciência em frases e parágrafos. Toda essa lapidação intelectual acaba por "deformar" as ideias originais.

Na comunicação, as palavras descrevem apenas generalizações e conceitos que já existem. Certas palavras descrevem emoções, ódio, amor, desprezo. Porém, tais palavras transmitem apenas tangencialmente tais emoções, representando generalizações e apagando nuances. O ódio do menino que foi castigado pelos pais, o ódio da vítima de estupro, o ódio do marido traído; existe todo um gradiente de "ódios" que podem ser sentidos.

Tentamos da melhor forma possível traduzir os sentimentos, combinando conceitos. É impossível, porém, transmitir com cem por cento de acuidade um certo estado mental. "Ninguém me entende" diz o adolescente revoltado; de fato.

2. O que não pode ser dito
As palavras, porém, não são a única maneira de transmitir ideias; gestos, ruídos, imagens podem ser usados para transmiti-las. Porém, quanto mais nos afastamos das palavras, quanto mais abstrato é o meio de comunicação, menos acuidade temos na transmissão.

O papel da arte é comunicar aquilo que não pode ser dito, o invisível. Nem tudo é arte, a diferença entre uma obra de arte e algo mundano é o quanto do "invisível" ele mostra.

3. Criação da arte
Para entender o que é arte é preciso entender o processo de criação de arte. Quando queremos dizer algo, não temos todas as frases que vamos dizer prontas na cabeça. Temos apenas uma ideia abstrata do que queremos dizer e conforme falamos organizamos e ligamos conceitos. Da mesma forma, a arte é uma modo de comunicação. Ao começar a criar, o artista não sabe exatamente o resultado final. Não sabe que cor vai ter cada centímetro de sua obra. Ele apenas cria e tenta passar aquilo da melhor forma possível para sua obra.

Arte é expressão, não o expressado. A arte não está na obra, tão pouco no artista. A arte está no meio. A arte é um processo, uma tentativa.

10 de setembro de 2011

Bundãozinho


Esse artigo é dedicado aos homens, mas é informativo às mulheres também

A bundãozice não é natural. Um bundão não nasceu bundão. Ele assim se tornou. O processo de bundalização é lento, porém natural. Sempre imperceptível e mortal. A bundãozice pode levar a morte ou pior: ao casamento.

O bundão não se vê bundão. Sua bundãozice é marginal a sua percepção de personalidade. Assim como todo cínico já foi um idealista, todo bundão já foi um cara decidido. São muitos os fatores que bundalizam o homem. Um mãe controladora, uma mulher com personalidade forte, um patrão chato. O espírito decidido é destruído a miúde, sem se ver. Cada "sim querida, não faço mais", cada resignação muda, cada desejo não justificado atendido é uma punhalada nas costas da liberdade do seu espírito.

O que é um bundão?
Bundão é homem resignado, cheio de medo, se é que podemos chamá-lo homem.. Tem medo de seus próprios desejos. Apagado, não tem consciência de si mesmo. Tem o espírito morto-vivo, que vive no limbo da escravidão.


Como não ser um bundão?
Apesar das mulheres estarem sempre, inconscientemente, tentando transformar os homens em bundões, elas não querem um bundão, elas querem um homem. Sê homem, não há nada de errado com isso. Nossa sociedade criminaliza os valores masculinos: a competitividade, a violência, a assertividade. Não há nada de errado com o comportamento do homem. Características masculinas (assim como femininas) são essenciais ao desenvolvimento da sociedade humana. Não aceite ameaças, nem comportamento passivo agressivo e principalmente não ajas de maneira passivo agressiva. Não aceitas pedidos não razoáveis, nada que tu não farias. Não te sintas culpado, homens e mulheres possuem papéis diferentes na sociedade; e viu Deus que isso era bom.

3 de setembro de 2011

Sobre portas de garagem arruinadas


1.  Piche
Alguns indivíduos, seus amigos, estavam "progredindo" na vida. Arrumando emprego, se casando. Ele ainda escutava Legião Urbana (escondido). Seus amigos odiavam os pichadores, que arruinaram a porta de suas garagens. Ele via a pichação como expressão de individualidade, representação da luta de classes e da voz que não é ouvida pela mídia de massa. Eles reclamavam do atendimento no KFC, ele reciclava caixas de cereal e anotava seus sonhos num "caderno de sonhos".

Ele tomou um tiro de uma bala perdida. Não teve filhos.

2. Ilusão
A sociedade sempre foi a ferramenta humana de ocultação da realidade. Quanto mais complexa a malha social, mais distantes estamos da natureza das coisas. O muro todo branco, a possível promoção no emprego, as plaquinhas na frente das árvores dizendo seus nomes científicos; essas coisas são um grande muro que bloqueia nossa visão.

Existem coisas, porém, que causam pequenas rachaduras nesse muro, coisas e eventos que nos fazem lembrar da nossa existência e insignificância. O sistema digestório e excretório humano, pichações nos muros, depravação. Existe um certo esforço natural da sociedade por sua eliminação ou atenuação. Moralidade, banheiros públicos, espiritismo, casamento.

Podemos passar a vida toda nos iludindo, mas basta que uma ilusão se quebre para que todas as outras comecem a desabar, como um castelo de cartas.

3. Ciclo
Quando me apaixonei, não deixei que percebesse.
Discretamente senti seu perfume, olhando-a de soslaio. Sonhei com e acordei pensando nas coisas que me dissera.
Cumprimentei normalmente, com o mesmo sorriso, porém outro olhar.

Quando passou, não deixei que percebesse.
Discretamente ignorava suas palavras, olhando uma mancha na parede. Não sonhei mais.
Beijei normalmente, com o mesmo sorriso, mas nunca mais com o mesmo olhar.

4. Melhor resposta - Escolhida pelo autor da pergunta
eu acho uma falta de educação na sociedade em pleno seculo xxi existem pixadores ridiculos que saem pixando qualquer coisa e ñ ligam se for uma casa um predio muro qualquer coisa
eu acho isso uma verdadeira calamidade publica a cida fica orrivel a onde eu vo tem que per um maldito pinxe que deixa a cidade orrivel
e o que o governo faz absolitamente nada o governo devreria se preuculpa com a segurança saude e educação que é mais importante para nós brasileiros que precisanmos bastante

fabio, yahoo respostas

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1 de setembro de 2011

Acúmulo de capital


No vídeo acima Steve Jobs, ex-CEO da apple, fala sobre sua estratégia para tomar decisões. Todo dia ao levantar-se, afirma, Jobs olha no espelho e se pergunta: "Se hoje fosse o último dia de minha vida, eu faria o que eu estou planejando fazer hoje?".
  1. Sobre os bens materiais
    A regra de Jobs me levou a refletir não sobre o que fazemos com nossas vidas, mas sobre posses. Há cerca de dois anos eu descobri que viria para Europa. Ganhei uma bolsa de estudos do governo brasileiro. Viajaria em seis meses para o velho continente podendo levar apenas duas malas e uma mochila.

    Instantaneamente, bens materiais passaram a ter outro significado em minha vida. Cada vez que pensava em comprar algo -- mesmo que fosse uma lapiseira -- eu refletia sobre o valor daquele objeto para mim e se eu iria levá-lo comigo para a Europa. Comprava menos e mais racionalmente.

    Igualmente aqui na França, continuo pensando da mesma forma. Porém, todos nós temos nossos momentos impulsivos. Por isso te aconselho, querida leitora, de utilizar uma pequena modificação da pergunta de Jobs na hora de decidir a essencialidade de algo que pensas comprar: "Se eu fosse fazer uma longa viagem amanhã com só uma mala, eu levaria isso que eu estou prestes a comprar?".

    Mesmo se não planejas viajar em um futuro próximo, essa é uma ótima regra da mão direita para decidir o que adicionará valor em tua vida. A vida, podemos dizer, é uma viagem. Estamos aqui, como lembrou Jobs, de maneira temporária. Nós nos apegamos aos bens materiais porque esses nos dão a ilusão de imortalidade, de segurança. Esquece essa ideia de segurança, vive como se a terra fosse explodir amanhã e tu fosses ser enviado em uma pequena nave para um planeta distante.

  2. Objetos e lembranças
    Seguido sempre de um momento feliz em minha vida, vem o medo de esquecê-lo. Quero que aquela felicidade que passou fique guardada dentro de mim e que possa acessá-la sempre que quiser; que aquele sentimento nunca se apague. Por esse motivo, e talvez por alguma predisposição genética, sempre tive a mania de guardar coisas, de guardar mementos na esperança de nunca esquecer de certos momentos.

    A memória, em especial a minha, não é, porém, misericordiosa. Com seu terrível bisturi ela destrói velhas memórias para dar lugar a novas. Momentos maravilhosos que pensávamos que nunca esqueceríamos, desaparecem como a memória de ter fechado a porta a chave hoje de manhã.

    Temos que aceitar a transitoriedade da vida. Momentos bons passam e se apagam, mas dão lugar a outros ainda melhores (ou não).
     
  3. Transtorno Obsessivo-Compulsivo
    Guardar coisas pode ser uma doença. TOC é um transtorno de ansiedade. Dentre as possíveis obsessões a de "armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar" figura como uma das mais comuns. Cuidado. Se na tua casa tem menos espaço para andar do que coisas, ou se tua casa cheira a mofo, então tu podes ter um problema psicológico. Procura um profissional.

  4.  Desprendimento
    A vida é mais curta do que imaginamos. Todos os bens materiais um dia desaparecem (talvez o plástico não...). Assim como nossos corpos vão desaparecer. Guardar velhas cartas, milhões de fotos em um HD, bilhetes de cinema, etc, posto que essencial a curto prazo, as vezes nos impede de avançar em direção a novas experiências. O desprendimento, portanto, é um dos caminhos para a felicidade.
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