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7 de maio de 2012

A sociedade das sociedades mortas


Larguei o livro na cama e disse:
- É lua cheia; começa hoje, acho, hoje ou amanhã.
- É?
- É... isso é uma ótima maneira de começar um conto.
E comecei a escrever este conto. Que não é um conto.

O ser humano é formado de orgãos, que são formados de tecidos, células. As células agem de maneira claramente determinada. Agindo cada uma da sua maneira, formam um sistema muito mais completo que elas, nós. Nós não somos claramente determinados. É esperado que seres humanos (ou qualquer outro seres racionais) não tenham capacidade para perceber seu determinismo.

O ser humano se distingue dos outros seres vivos conhecidos porque tem consciência de si mesmo e de sua morte. A morte é a perda do equilíbrio, não representando o fim dos subsistemas, mas a sua transformação em outras coisas.

Não há, no entanto, um consenso do que é um ser vivo. Definamo-o. Um ser vivo é um sistema de sistemas em equilíbrio (de uma forma recursiva) que possui as seguintes características:
  • Nasce
  • Tem a capacidade de se reproduzir
  • Morre
Seres humanos formam sociedades. Uma sociedade claramente nasce (já que elas não existiram desde o início dos tempos), se reproduz (assexuadamente e por brotamento) e morre (é exterminada ou se transforma em outra coisa totalmente diversa da original).

Quando um animal morre, ele está entrando em desequilíbrio. Um animal pode viver sem uma de suas partes (digamos uma perna). Porém, ao perder alguma parte vital de seu corpo (desequilíbrio de um sistema vital), o sistema entra todo em desequilíbrio.

Sociedades e seres humanos agem conforme regras complexas, que podem ser até certo ponto entendidas e usadas para prever futuras ações. Assim podemos tentar entender a sociedade como um ser vivo. Porém, assim como as formigas não entendem o mundo dos humanos (ou podem se comunicar conosco), os humanos não entendem o mundo das sociedades.

Talvez algum dia, senão já hoje, as sociedades tomem consciência de si próprias e de sua morte. Teríamos sociedades se comunicando e mutando, até o ponto de adotar algum tipo de reprodução sexuada. Imagina o sexo das sociedades.

Será que isso é possível? e será que há algum modo de testar essa hipótese? talvez se conseguíssemos nos comunicar com as sociedades, poderíamos fazê-las evoluírem positivamente.