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20 de junho de 2011

Texto inconsistente, mas completo.

Todos são inconsistentes. Seria quase impossível para uma mente humana não ter nenhuma inconsistência em seu raciocínio. Independente de como o sistema nervoso funciona, poderíamos dizer que guardamos dezenas de milhares de asserções em nossas cabeças. Checar cada uma delas par a par seria uma tarefa computacional intratável, ainda mais porque muitas vezes não possuímos as ferramentas intelectuais para verificar que duas proposições são contraditórias.

Um exemplo de duas proposições contraditórias que muitas pessoas mantêm (uma boa parte religiosa) é se opor fortemente ao aborto, mas apoiar a pena de morte. O problema não é intrínseco ao fato de ambas tratarem do ato do assassinato cometido por um terceiro. Mas sim dos argumentos levantados por seus defensores. Dois dos argumentos mais comuns contra o aborto são a santidade da vida e a potencialidade de cada indivíduo (geralmente há um apelo emocional envolvido, "imagine se tu abortasses Beethoven ou Einstein"). De outra parte temos a vida do culpado. Não era toda vida sagrada? o culpado não poderia se tornar um grande artista ou cientista em alguns anos?

De fato, checar nossas crenças par a par não seria o suficiente, algumas vezes teríamos que comparar diversas suposições para finalmente chegar em uma inconsistência. Como um parêntese, esse tipo de raciocínio não só levaria anos para ser feito, como não poderia ser automatizado. Portanto, mesmo que conseguíssemos colocar todo o conhecimento do homem em uma máquina, não poderíamos criar um processo que checaria a consistência de toda essa informação.

Em discussões, uma das armas preferidas para acabar com o oponente é apontar suas inconsistências. Todo o assunto polêmico tem esta propriedade: tomar qualquer posições te dá a obrigação de tomar diversas outras, algumas vezes pouco relacionadas, para evitar incoerências.

Outro artifício de argumentação é forçar incoerências. Por exemplo, relacionar homossexuais a negros, e usar o apoio aos direitos de um grupo como um impedimento à aposição do outro. Quando enfrentamos tais contradições, não é raro tentarmos minimizá-las utilizado generalizações. O problema dessa abordagem é que toda generalização destrói o contexto. No exemplo supracitado, dada generalização, poderíamos concluir que matar um ser humano é sempre errado. Nesse caso perdemos todo um gradiente de casos em que a morte de um ser humano poderia ser necessária, como em um caso de defesa pessoal. Ou um caso de um feto que traria riscos de vida à mãe caso a gravidez continuasse. Temos, no último caso, duas vidas em jogo. Porém o valor dessas vidas não é igual. A mãe com suas diversas experiências e memórias, valor para sociedade, valor para seus amigos e familiares, seria talvez sacrificada devido à santidade de um feto que nem sabemos ao certo se conseguirá sobreviver ao parto, e que possui pouco valor para qualquer um que não seus pais.

Dessa forma, temos somente uma opção: assumir que nossas bases ideológicas são incoerentes por natureza e que somente compreendendo a natureza dessas incoerências de uma maneira honesta poderemos chegar a uma posição mais livre de contradições.

Esse artigo tem uma contradição; tu consegues identificá-la?

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5 comentários:

  1. A contradição está no título: o texto não é completo! hahahaha
    Acho perigoso afirmar que duas vidas distintas possuam valores distintos, ou mesmo tentar mensurar cada uma destas vidas. A que fatores pode ser atribuído valor, que características humanas e potenciais podemos valorizar em detrimento de outras? E quem determina isso? Constituição, religião, poder?...
    Enfim, just a little remark.
    Excelente texto.

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  2. Falácia (http://changingminds.org/disciplines/argument/fallacies/hasty_generalization.htm)

    Só porque o valor de duas pessoas quaisquer é difícil de ser mesurado, é impossível mesurar o valor de qualquer pessoa? Igorando potencialidade (que pode ser argumentada pelos dois lados: tu poderias estar matando o Hitler, ao invés de Beethoven), um feto tem sim muito menos valor que um adulto que viveu bem maism (mesmo se tu ignorar qualquer características de ambos, só pelos fatos citados no meu artigo).

    Não que eu seja a favor do aborto, sou contra. Mas não pela impossibilidade de comparar o valor de dois indivíduos.

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  3. Não é impossível mensurar o valor de uma pessoa, de forma alguma. Porém qualquer medida vai ser completamente subjetiva e dependente do ponto de vista do medidor.
    Uma medida que desconsidere o "potencial de vir a ser", como tu disseste, provavelmente iria valorizar mais um indivíduo com experiência em detrimento de um feto (e se fosse Hitler? ele não tem valor negativo?), mas essa medida, desconsiderando o potencial, é moldada sob a tua ótica, o teu ponto de vista. Por isso acho "perigoso" tentar atribuir valores às pessoas. Perigoso no sentido de que seria virtualmente impossível atingir um consenso quanto à medida.
    (Não tô mais conseguindo comentar com o perfil do wordpress, maldito blogspot!)

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  4. Será que pelo simples fato de admitir que a incoerência/ inconsistência (tu as usaste como sinônimos se bem entendi)é intrínseca ao nosso pensamento chegaremos a "uma posição mais livre de contradições"? Creio que essa afirmação é em contraditória! Hehe Seria esse o objetivo do autor de tão bem-sucedido artigo?

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  5. Obrigado pelo "bem-sucedido", Bia. Eu realmente usei os dois alternadamente, nesse sentido eles significam a mesma coisa para mim. Já que eu não estou falando de alguma Verdade universal, mas sim de um conjunto de ideias consistentes(que não se contradizem).

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