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31 de dezembro de 2012

Sonhar tem custo



Acaba o ano e o assunto preferido é o ano que vem. Quais sonhos vão virar realidade esse ano?

O sonho do Pedrinho era ser jogador de futebol. Via todas as partidas da seleção e de seu time do coração. Tinha o uniforme, as meias, as chuteiras. Sabia o nome de todos os jogadores e quantos gols fizeram no ano passado. Usava o corte de cabelo do artilheiro, quem decorava as paredes de seu quarto.

Sempre que fechava os olhos, se via em pleno Maracanã. Ouvindo os gritos da torcida, bombas e fogos. Porém, sonhos era tudo que tinha, Pedrinho não tinha movimento nas pernas, suas alucinações não passariam disso.

Quantos sonhos viram realidade? quantos sonhos fazem sentido? Sonhar tem custo sim. Cada vez que empurravam a cadeira de rodas de pedrinho, seu coração diminuía. E qual é a alternativa? Será que Pedrinho seria mais feliz se sonhasse ser analista de sistemas ou radialista?

Vivemos mais de fantasia hoje do que em qualquer outra época da civilização. Pessoas vêem mais de quatro horas de televisão por dia. E a Televisão sobrevive de publicidade. A cada trinta minutos na poltrona, uma dúzia de sonhos são "vendidos" aos nobres telespectadores. Palavra mais apropriada seria empurrados goela a baixo.

E quantos desses sonhos são possíveis? muitos sonhos são um jogo de soma zero: só pode haver um campeão de boxe na categoria peso-pena. Isso significa que centenas de jovens de nariz quebrado vão acordar todos os dias às três da manhã, treinar o dia inteiro, comer a dieta estrita dos campeões, só para verem seus sonhos estraçalhados, como seus narizes, pelas mãos do campeão. 

De novo, qual é a alternativa? se todos fossemos inteiramente racionais, teríamos um mundo de banqueiros e advogados. A realização do sonho nos traz somente o prazer momentâneo da glória. É a busca que nos motiva. Quando Pedrinho fecha os olhos, ele é mais feliz que o artilheiro. Quando o peso-pena acorda, ele tem muitos motivos para levantar da cama, nenhum nariz quebrado vai impedi-lo de pisar no ringue. Esse é o drama humano, somos providos com muita ambição e poucas oportunidades. Realizamos objetivos só para criarmos mais, cada vez mais impossíveis.

Mas o drama previsível não enche o teatro. Vamos quebrar nossos narizes em 2013!

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