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10 de janeiro de 2013

O inferno são os outros


Todo mundo filosofa. Seja na mesa do bar, ou no banco do ônibus. Filosofia pode ser feita em grupos de dez, ou sozinho no elevador. Não precisa ter diploma, nem certificado. A maioria das pessoas filosofa e nem percebe. Também pode ser feito em qualquer idade. Eu comecei a filosofar quando tinha cinco anos. A primeira questão que ocupava minha mente ainda não totalmente desenvolvida era:
Por que eu sou eu e não outro? como seria ser outro?
A pouco tempo eu aprendi que as crianças bem novas não tem a noção de que seu cérebro é separado dos outros. A criança não entende que o que ela sabe nem todos sabem. Vi um experimento no qual uma menina é deixada pela mãe sozinha em uma sala. Nesse meio tempo ela esconde uma boneca em uma gaveta. Quando sua mãe volta, a menina fica surpresa de descobrir que a mãe não sabe onde está a boneca. Como ela não sabe onde está a boneca? está dentro da gaveta. Para a menina, tudo que ela sabe, a mãe também sabe.

Lá pelos quatro anos de idade, finalmente começamos a entender que existem outros. Começamos a criar a "teoria da mente". Modelamos o comportamento de outras pessoas tendo em vista que não têm os mesmos gostos e conhecimentos que os nossos.

Porém ainda fica a curiosidade de saber como é ser outra pessoa. Talvez essa curiosidade ajude na hora de modelar o comportamento dos outros. Por isso biografias são tão populares. Queríamos estar na pele de outrem, saber como é sentir outras experiências, outra realidade.

Reality shows são populares também por esse motivo. Somos voyeurs naturais, queremos saber os verdadeiros motivos, a verdadeira personalidade de todos.

E enquanto criança, sempre me imaginava como outro. Imaginava acordar em outra cama, estar em outro uniforme. O que influenciou profundamente a maneira como eu vejo o mundo. Tenho uma dificuldade muito grande de apontar culpados, de condenar.

"Quero ver se fosse com a tua filha". Para mim as respostas não são simples, não acredito no bem e no mal. No Certo e no Errado (com letras maiúsculas). Sempre existe uma situação agravante, um desbalanceamento químico, uma coincidência indesejada.

E isso se estende para nós mesmos: olhamos para o passado e nos julgamos. Somos os piores juízes e executores da nossa própria sorte. Mesmo que tenhamos mais conhecimento do que qualquer um para fazer tal julgamento, somos duríssimos na pena.

Algo muito mais válido que Moralidade, que é fossilizada e morta, é compaixão. Eu prefiro mil vezes alguém que se põe no lugar do outro, do que alguém com aquele forte código de honra cravado em pedra. E teríamos uma sociedade muito mais feliz se antes de condenarmos, tentarmos entender o nosso amigo ser humano. E mais que tudo: tentarmos entendermos nós mesmos. Conhece-te a ti mesmo.

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