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24 de março de 2012

Erro é descoberta*


Escrever não é fácil; não é.

A tela branca é um buraco negro. Escreve melhor no ônibus, olhando para a janela, ou no chuveiro. Uma novela deitada na cama. Uma epopeia, esperando o fim da aula. Na mente tudo é mais claro, tudo flui. Ideias encadeiam-se harmoniosamente como um cardume de atum. Caótico, à primeira vista, mas a sua fluidez dá ares de dança ao espetáculo. Mas são só ares, ao aproximar-te, verás que não passam de um monte de peixes. Na mente a ideia é uma mentira.

Sentar-te e por a mão no teclado, ou na pena, é matar o texto. É matar o que sentimos. Porém, deixa a ideia morrer, para renascer como oração. Esqueça o orgulho. A ideia na tua mente, ainda que cheia de graça e bem vestida, não vale nada. Vale mesmo é compartilhada. E compartilhando-a ficas mais rico. Quem escreve é uma pessoa rica -- até os poetas. Cada cem palavras na tua mente, são uma no papel. A cada cem mensagens que escreves, uma vai chegar ao leitor. Mesmo assim, tu és mais rico por escrever, e quem lê é mais rico por ler.

Faze da escrita um hábito. Anda sempre com teu caderninho. Só se aprende a escrever escrevendo. Não te desesperas com a folha em branco. No lugar da folha, olha o céu. Escreve teu poema no ônibus, tua epopeia na cama, tua novela no chuveiro. Suja a folha, molha-a, amassa-a, porque em branco ela não vale nada. Escreve com letra feia, ou tremida do meneio do carro. Mas escreve, sempre. O perfeccionista é o pior escritor, porque nem escritor é.

Quando não souberes sobre o que escrever, faze como eu: escreve sobre a escrita. Pelo menos eu vou querer ler.

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21 de março de 2012

Nunca comeces um artigo com "para mim"


Para mim as pessoas não são assim tão diferentes. As coisas não mudam tanto assim (nem mesmo "nos dias de hoje"). Não mudam e nem mudam para melhor. Tudo é estatisticamente igual.

As leis da física valem aqui na Terra e também no outro lado do Universo. O que mudam são as condições normais de temperatura e pressão e o nível do mar, se mar existir.

O que nos deturpa os sentidos é o ego. Julgamos nossos problemas e nós mesmos especiais. Se assim não fizéssemos, não estaríamos aqui como civilização. Que civilização? sempre o sistema vigente é o mais justo possível. E também o subsequente para seus contemporâneos. Portanto acreditamo-nos o centro dos tempos e da moral.

Se toda civilização é especial, nenhuma o é.

Tudo é subjetivo? essa ideia data ainda do tempo em que acreditávamos que o homem nascia uma folha em branco moral que se era preenchida em seus tenros dias. Hoje sabemos que grande parte de nossas decisões são regidas pela constituição genética. Mesmo se não acreditarmos no determinismo, ainda nos resta a inevitabilidade de uma influência em nossa tomada de decisão.

Se as ações são baseadas na genética, e essa é extremamente similar* entre os seres da mesma espécie. Então não teríamos alguma tipo de objetividade? pelo menos em termos de humanidade.

* exageramos as diferenças por ego. Maldito ego, pai da civilização.