Páginas

16 de setembro de 2012

O casal ameba


O louvo-a-Deus tem sua cabeça comida durante a procriação. O macho da girafa bebe a urina da fêmea para verificar se ela está apta a procriar. A natureza é cheia dessas curiosas práticas. Nós humanos não somos diferentes, só que as nossas práticas são um pouco mais complexas. Mulheres passam horas se disfarçando arrumando, homens passam horas na academia. Nem vou comentar sobre os rituais de acasalamento, livros e mais livros foram escritos sobre tal.

Duas pessoas se conhecem. Sem seguir nenhum guia, suas químicas internas mudam. Um olhar, gestos, frases, uma sequência de causa e consequência controlada pela cultura e genética que dificilmente será compreendida totalmente toma efeito. Um telefonema na hora errada, uma frase com entonação incorreta, podem quebrar a cadeia. Mas algumas cadeias persistem.

Aos poucos a cadeia fica mais forte, fortalecida pelo hábito. Tudo fica menos bio e mais lógico. As regras agora são mais culturais que químicas. Expectativas são criadas, e quebradas, e mudadas. Aos poucos, uma entidade toma forma. Essa entidade, que não está nem nele nem nela, tem vida própria, os controla.

A entidade vai endurecendo, ficando mais forte contra o exterior. Dá origem a uma micro-cultura, semi-independente da Cultura global. Os indivíduos envolvidos, então, ficam cada vez menos conscientes dessa entidade. Aos poucos o hábito vai dominando, as expectativas crescem, as raízes entram cada vez mais fundo nas almas dos hospedeiros.

Então um dia os anti-corpos individualistas se manifestam. A vida acontece. O hospedeiro vê uma saída, de repente o contrato não está mais vantajoso. Então ele se desprende, ele se livra do parasita. Mas ele não morre sem deixar sequelas. As vezes mortais.

Outro olhar, outros gestos, outra sequência de causa e consequência, outro parasita. As defesas naturais agora, no entanto, são mais fortes, os benefícios e malefícios, portanto, mais fracos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário