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3 de setembro de 2012

Sozinho na multidão


O mundo é do indivíduo. O triunfo máximo da iluminação é o fim do coletivo, da tribo, do grupo. Vivemos, dizem, na época mais pacífica e próspera da história da humanidade. Porém cresce um problema endêmico e silencioso. Um que não altera índices, que não passa por métricas. O mundo moderno, dos números, da ciência, não enxerga o que não é taxa, o que não cabe na célula do Excel.

O homem é cada vez mais urbano, mais apertado em apartamentos pequenos, mais amassado em transportes públicos ou preso no tráfego; cada vez mais sozinho. E não é coincidência: a solidão é propagada devido a seu subproduto: o consumismo.

O homem só só consome. Quando entre amigos, é feliz, é criativo, é ativo. Quando sozinho é reativo, é mesquinho, é egoísta. Compra porque está preso dentro de si. Passa a tarde no shopping procurando um sapato, tarde consumindo e sendo consumido. Tentando preencher o vazio da solidão.

A igreja se comercializou, o espírito fica entre a roupa nova e a nova TV. Vai para a Igreja para pedir mais dinheiro, paga o imposto para Deus. Velas para comprar. Indulgências, vagas no céu. Decalques no carro, CDs e DVDs. As religiões que se dizem contra o consumismo são as mais hipócritas: a aula de Yoga, o incenso, a calça trançada, a droga, tudo é consumo. Meditar agora é consumir.

A diversão é o consumo. Agora a diversão é na cadeira, na frente do computador, consumido mídia, adicionando fotos, colecionando "amigos", ganhando níveis, juntando itens, consultando preços.

Amanhã eu não consumo, vou sentar com meu amigo, conversar sobre conversas, sem comprar o maldito refrigerante.

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