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10 de fevereiro de 2015

24 dias de meditação


Você já imaginou como seria ver a sua vida por uma tela? Imagine ver cada instante do seu dia de hoje, minuto a minuto. Seria uma experiência excruciante, principalmente para os mais ansiosos. Há um par de anos atrás, eu coloquei minha webcam para tirar uma foto por minuto. Ver o seu rosto olhando debilmente para a tela de um computador é uma visão não muito agradável. Mas a cada minuto eu estava totalmente inconsciente da minha situação, totalmente concentrado em seja lá o que eu estivesse vendo. Em qualquer outro lugar, menos ali. Observar você mesmo em terceira pessoa tem um poder transformativo.

Vá para o centro da cidade e observe o rosto das pessoas. A maioria está presente só em corpo. Seus olhos mirados para frente mas suas mentes já onde vão chegar, ou talvez para aonde vão várias horas depois. Pouco pensamento vai em cada ação a se tomar, o que fazer a seguir. Grande parte do nosso dia se passa dessa maneira, fazemos as coisas no automático.

Passamos um terço da nossa vida dormindo, o que é uma necessidade do corpo. Mas e nos outros dois terços? estamos realmente acordados? quantas vezes você já deixou as chaves de casa em um lugar aleatório e depois não lembrava onde as tinha posto? é isso que acontece quando se vive dormindo.

Há 24 dias eu tenho meditado uma vez por dia. Para quem nunca tentou, ficar sentado, sem pensar em nada, dez ou vinte minutos é muito mais difícil do que parece. Nosso cérebro tenta ao máximo fazer tudo por hábito. Se você dirige, pense na primeira vez que dirigiu. Cada passo era feito conscientemente, exigindo alta concentração para fazer as coisas mais simples como mudar de marcha ou checar o retrovisor. Aos poucos essas pequenas ações foram sendo incorporadas à sua "caixa de ferramentas" e você começava a fazê-las sem nem mesmo pensar. Hábitos se incorporam as atividades automáticas do dia-a-dia. Chegar em casa e ligar a televisão por exemplo. Ou abrir o e-mail quando outras atividades exigem sua atenção.

Com o tempo, os hábitos se tornam parte de nós. Aos poucos é difícil nos dissociarmos do que fazemos todos os dias. O homem que acorda cedo todo dia e lê o jornal acredita que ler o jornal faz parte de quem ele é. Mas o que aconteceria se amanhã o homem acordasse e fosse correr no parque? ele obviamente não viraria outra pessoa, ainda seria o mesmo homem. Da mesma forma, criamos o hábito de nos perdermos em pensamento.

Faça o seguinte: da próxima vez que estiver se deslocando para algum lugar comece a observar as coisas que você pensa. Observe o quão repetitivo e exaustivo é o pensamento. Talvez você pense em algo que tem que fazer quando chegar em casa e depois de algo errado que fez no trabalho ontem. Depois você vai pensar novamente nessa coisa que tem que fazer assim que chegar em casa, então vai lembrar de algo de errado que fez semana passada. Daí vai pensar em como está se sentindo desconfortável e como vai ser bom chegar onde quer chegar. Logo vai começar a pensar de novo que não pode esquecer de fazer aquela coisa no momento que chegar em casa. E vai lembrar de algo errado que fez em 2003.

Da mesma forma que seria excruciante ver o seu dia em uma tela, seria extremamente monótono ouvir tudo que você pensa lido em voz alta. A pura repetição já o faria ficar entediado, mas mais que isso, o discurso, além de não interessante, é ruim. Quantos dos seus pensamentos lhe fazem sentir mal? mas esse que está lhe chamando de burro porque esqueceu da carteira em casa, esse é você não é? e não há como fugir de si mesmo.

Esse não é você.

Mas esse discurso interno é feito a tanto tempo que se torna um hábito. Tanto que é difícil de imaginar que essa voz que está na sua cabeça não é você. Que é um hábito. E que pode ser reduzida. Isso é só ruído. É possível controlar mais o seu próprio pensamento.

Sentar e meditar é um hábito. Eu comecei com dez minutos por dia e passei para quinze. Nesse tempo eu tento focar no momento, na respiração. Eu não luto com os pensamentos, eu os deixo sair como entraram. Eu não me identifico com os pensamentos. Eu não me chamo de distraído quando perco a atenção. O importante é só sentar e meditar.

Ainda é cedo para dizer, mas eu estou mais feliz. Mas você não precisa acreditar em mim. Você não precisa nem mesmo acreditar que funciona. Basta sentar e não pensar em nada. Meditação é um treino para todo o tempo em que você não está meditando. 

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