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25 de agosto de 2012

Drogas abrem tua mente?


George Carlin e Bill Hicks, dois comediantes americanos, em certo momento de suas vidas experimentarem drogas alucinógenas; em várias entrevistas e mesmo em suas performances reportaram que essa experiência abriu as suas mentes, mudando para sempre a forma como pensavam.

É isso que eu preciso! Traz o chá margarida!

Calma, calma meu amigo. Nem todas as pessoas que usaram drogas acabaram seu tornando George Carlin ou Sócrates, muitos viraram vagabundos. Além disso existem autores geniais que não precisaram desse tipo desse artifício para criarem suas obras primas.

Já que não é necessário e nem suficiente, talvez as drogas sejam pelo menos um potencializador do talento: talvez elas sejam uma forma de despertar o gênio que vive dentro de ti (ou, se tu não queres ser um artista, uma pessoa mais consciente do Universo, dos seres e de outros planos de existência).

Bom, para começar, os artistas citados já eram talentosos antes de usá-las. Não há como saber se se eles não tivessem utilizado drogas, eles não seriam tão geniais quanto acabaram sendo.

Existem uma coisa que tem muito mais co-ocorrência com genialidade: trabalho. O que eu observo em grandes artistas é que em geral são pessoas quase obsessivas em relação ao seu trabalho, passando um número obsceno de horas desenvolvendo suas habilidades.

Drogas podem causar certos tipos de neurose e esquizofrenia. A última é associada na mídia a gênios, principalmente da matemática. A esquizofrenia pode levar a um comportamento obsessivo que, se aplicado corretamente, pode ser benéfico para a habilidade do artista. Porém o efeito é uma loteria, podem muito bem levar a uma obsessão diferente do que a desejada, por exemplo obsessão sobre o comportamento dos duendes que vivem no banheiro.

As drogas podem te levar a experiencias diferentes e enriquecedoras, mas essas experiencias podem ser trazidas também pela simples vontade de tê-las. O mundo está cheio de oportunidades para quem não está com medo de meter a cara.

Então a possibilidade danificar o teu cérebro pode sim te trazer benefícios, mas é um preço bem caro a pagar.

Tudo isso que tu estás dizendo é porque tu tens medo! medo de abrir tua mente.

Primeiramente, só o medo não é um argumento necessário para descartar alguma ideia. O medo é natural no ser humano e devemos combater o medo irracional. Porém ele também pode ser benéfico. Sim, eu tenho medo de atravessar o oceano Atlântico a nado, porque eu sei que eu morrerei fazendo isso, mas isso não significa que atravessá-lo é uma boa ideia. 

Além disso, equalizar "abrir a mente" com drogas é justamente a proposição que eu mostrei falsa aqui nesse artigo. As drogas são uma fuga da realidade, uma fuga das responsabilidades. A droga é ouro para a racionalização, uma jogada com baixa de probabilidade de sucesso a qual tu podes culpar quando tudo der errado.

Adoramos atalhos, "perca doze quilos em um mês", "aprenda alemão em duas semanas", "fique rico trabalhando em casa quatro horas por semana". Atalhos existem, sempre há uma maneira mais eficiente de fazer as coisas, mas a maioria dos que são comercializados são óleo de cobra. Desconfia quando a esmola é demais. É preciso ter um olhar cético para esses tipos de estratagemas. Existe uma outra forma de te tornares uma pessoa diferente. Uma forma que, ainda que não necessariamente a mais rápida, é muito mais segura: trabalhar. Sentar a bunda na cadeira e estudar, sair por aí e agir.

Então talvez uma outra maneira de "abrir tua mente", seja simplesmente trabalhar para isso. Lê muito, conversa, te arrisca. Talvez demore muito mais do que uma noite tomando chá e vendo a Virgem Maria, mas ao menos é real, vem do teu esforço. Não é jogar os dados com Deus.

E o álcool? 
Já notaste que esse poder de modificação do modo de pensar é atribuído muito menos ao álcool do que as drogas ilícitas? atribuo isso ao fator mistério. A bebida foi largamente mais estudada que os drogas, todos sabem dos seus efeitos de desinibição e de redução do juízo, dos efeitos no fígado e no cérebro. As drogas, principalmente as mais novas e mais exotéricas, não dispõe da mesma disponibilidade de conhecimento existente. Assim, como tudo que não conhecemos, atribui-se o fator mistério às drogas ilícitas. Aqui vale a heurística de desconfiar de quem baseia seu argumento nos mistérios do Universo.

Sim, existem artistas que usam álcool para se desprender, mas isso em geral é mal visto: mais uma vez isso é uma forma de fugir do problema. O álcool é necessário, mas não é suficiente para desinibir, então é só uma forma não saudável (se consumido em excesso) de prolongar um problema que pode ser resolvido sem o seu uso. 

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