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13 de agosto de 2012

Moleskine



1. Eu
Não reconheço a pessoa que escreve essas palavras.
Sou só os pedaços que sobraram de algo que já não existe mais.
Meu destino é vagar sozinho pelo sombrio caminho da ignorância.

-- Ela escrevia isso em um Moleskine, deitada no sofá.

2. Tu
Olha para baixo. Provavelmente verás tua barriga. Talvez veja uma parte do teu nariz. É isso, tudo que tu já viste, em toda tua vida. Todas as muitas experiências que tu já tiveste, tudo foi nesse ponto relativo do universo. Considera-te o centro do universo, nunca saíste do lugar.

Não é o teu olho que vê, é o cérebro. Estamos presos em nossas cabeças. Quem nunca pensou que nunca saberemos como é ser outra pessoa, ou viver em outro universo, ou outra época. É aterrorizante a sensação de estar preso dentro de si mesmo. Mesmo assim, a maioria das pessoas nunca chegou ao ponto de se angustiar por causa disso. Qualquer fato de vida, levado ao seus extremos, pode causar o terror. Mas quem tem tempo hoje em dia para chegar aos extremos? na correria do dia-a-dia.

Ninguém pensa até o fim. As pessoas preferem as distrações. As preferem por que são reconfortantes, exatas. A mente humana evoluiu nessa realidade, a das coisas imediatas, da ação e da reação. Do soco que leva a árvore a balançar, fazendo o coco cair e quebrar. Nenhum desespero. O problema é que a queda do coco traz em dúvida a sua causa e o motivo da reação: porque o coco cai para baixo? Por que eu tenho duas pernas e  não cinco? as coisas não poderiam acontecer de outra forma?

Quando eu digo que a mente humana é assim, implicitamente eu alego que é possível haver mentes que não se aterrorizem pelo absurdo, ou mentes onde o absurdo não existe. Ou talvez que o Universo é de alguma forma inteligível, ou entendível. Talvez essa seja a última das crenças infundadas vindas da arrogância que o ser humano ainda não abandonou. Agarramos a mentira do Universo objetivo porque a alternativa é impossível de imaginar. 

O homem criou Deus para explicar o absurdo, e o abandonou por crer que poderia compreendê-lo. A própria existência de um Deus inteligente assume que existe uma inteligência que compreende algo. O homem moderno é otimista, acredita que iremos chegar no conhecimento completo. Talvez se publicarmos mais e mais livros, se modificarmos nossos genes, se descobrirmos vida extraterrestre, teremos a resposta que tanto queremos. Aquela que vai resolver todos os dilemas e paradoxos.

Há outra possibilidade: não existe resposta, assim, o absurdo é somente um conceito proveniente de uma falha da nossa mente subdesenvolvida, ou talvez um produto inevitável da inteligência.

3. Marcela
Meu nome é Marcela. Odeio a mídia, por isso eu escrevo: quero que as pessoas tenham outro ponto de vista. A mídia quer nos vender um padrão de beleza único. As mulheres tem que entender que são todas lindas. Nós temos que estar sempre lindas e magras, os homens saem como querem. Se nós saímos com vários caras, somos vagabundas; os homens, garanhões.

Por que os homens ganham mais que as mulheres fazendo as mesmas atividades? as mulheres são muito mais espertas. Um mundo comandado por mulheres seria ideal, sem guerras, sem violência, sem corrupção. Eu só voto em mulheres.

Tem umas pessoas que dizem que o feminismo já venceu, nada está mais longe da verdade: todos os dias, milhares de mulheres são oprimidas, no local de trabalho, na rua, em suas casas. Sabem quantas mulheres são abusadas sexualmente todos os dias? ou estão na cadeia nesse momento? e quantas mulheres estão morrendo em profissões perigosas e em guerras? sabem qual é o índice de suicídio entre as mulheres? Não podemos ficar paradas. 

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